Casal Ubarana está livre, mas com rédeas curtas



 (Fábio Cortez/DN/D.A.Press)
O primeiro dia de liberdade foi condicionada às quatro paredes do lar. Carla Ubarana e George Leal se mantiveram em casa, boa parte do dia, e não tiveram qualquer compromisso externo pelo menos até às 11h35, quando a reportagem deixou a rua Maria Auxiliadora. Os dois são réus da Operação Judas que descobriu desvios de dinheiro público na Divisão de Precatórios do Tribunal de Justiça. Conforme sindicância interna do tribunal, R$ 14 milhões foram desviados no esquema, que teria a participação direta de dois desembargadores: Osvaldo Cruz e Rafael Godeiro. Carla e George estavam presos há 120 dias e o juiz José Armando Ponte, da 7ª Vara Criminal, decidiu por conceder a liberdade provisória esta semana. Os advogados do casal justificaram que, como a investigação dentro do Poder Judiciário já havia acabado, eles não teriam mais como interferir na coleta de provas. O Ministério Público não fez objeções.

Pela manhã, a rotina foi relativamente tranquila na casado casal Ubarana, que fica na rua Maria Auxiliadora, 842, Tirol. As portas se mantiveram todo o tempo trancadas, assim como o portão da garagem. A reportagem do Diário fez plantão no local. Primeiro, ao chegar, às 8h02, tocou a campainha, mas ninguém atendeu. Às 8h45, vozes de crianças brincando do lado de dentro da garagem. Provavelmente eram os filhos do casal. Nova investida na campainha. O diálogo: "Quem é?", indagou o menino. "Sua mãe está ai?", pergunta o repórter. "Tá não", responde. O outro: "Tá sim, tá dormindo". O primeiro: "Quando ela acordar a gente liga pra você". "Tá certo, obrigado".

Às 9h42, um oficial de justiça chega à residência do casal. Toca a campainha. Ele aguarda, mas não é recebido. Outra pessoa - uma mulher de roupa rosa com idade aproximada de 45 anos - chega ao portão. O oficial conversa com ela, que entra na casa. Ele aguarda. Toca mais quatro vezes a campainha. Depois a mulher que havia entrado volta e o acompanha para dentro da residência. Eram 9h59. Segundo os operários de umedifício em construção em frente à residência, a mulher que entrou não é empregada da casa. "A empregada é uma coroa gostosa", brinca um deles.

Os pedreiros preferiram não se identificar, e pouco falaram sobre o que viam na casa do casal Ubarana. Eles disseram que às vezes Carla saía de casa para tomar um ar na rua, e que eles já a viram conversando com os PMs que estavam fazendo a escolta na residência. "Tanto tempo assim, acho que deu até pra fazer amizades". Durante o tempo em que se manteve presa, Carla deu uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que repercutiu nacionalmente. Ela declarou que os desvios somaram R$ 20 milhões. A conta não bate com o que foi detectado na sindicância interna feita no TJ, sob a presidência do desembargador Caio Alencar, que se aposentou esta semana, após entregar o relatório final.

Nesse ínterim em que o DN conversava com os operários, uma senhora passa em frente à residência. É uma moradora do bairro. "É um absurdo soltar essas pessoas. Se fosse um pobre estaria preso.Soltar é ser conivente com o roubo. E os milhões que eles desviaram?", questionou a mulher. Ela estava com roupas de casa, bem à vontade. Tinha ido colocar uma sacola na lixeira e comentou isso ao perceber a imprensa na sua rua. Às 10h22 o oficial de justiça sai da casa de Carla Ubarana e George Leal. "Vim deixar a intimação da sentença que concedeu liberdade condicional. Demorei um pouco porque ela foi ler. Depois George leu e também assinou o termo de compromisso. Eles estão tranquilos", disse o oficial Aldo Lemos. 

As regras que o casal deve seguir

Os documentos que o casal assinou se referem às exigências da Justiça para se manterem em liberdade. As principais dizem respeito ao horário de permanência fora de casa. Eles têm que se recolher às 20h e só podem sair de casa às 6h da manhã do dia seguinte. Além disso, não podem se retirar do município de Natal e tem que se apresentar uma vez por semana à 7ª Vara Criminal para prestar informações ao juiz José Armando Ponte. Às 10h30 a reportagem liga para George Leal. O telefone só chama. Ninguém atende. Nova chamada, desta vez aos dois advogados do casal, João Maria Rodrigues e Marcos Braga. Só Marcos atendeu. Disse que seus clientes não receberiam a imprensa. "Eles não têm nenhum fato novo a apresentar. Se eu ligar e pedir para que a imprensa entre na casa será uma grande invasão de privacidade", disse ele.

Depois disso, às 10h35, a reportagem faz nova investida na campainha dos Ubarana. "Quem é?", pergunta uma mulher ao interfone. Após identificação, ela responde: "Eles não querem falar com ninguém e já foram dormir. Carla está até doente hoje", disse ela. Depois desligou. Marcos Braga declarou que conversou ontem com o casal, e que eles buscavam saber o que mudaria na rotina após a nova decisão judicial. "Foi uma conversa rápida. Tinham visto na imprensa e questionaram apenas quando e para onde poderiam sair. Não falaram sobre represálias, declaração para a imprensa, nada disso", afirmou o advogado.

"Queria dar um abraço em George"

Além da mulher de rosa, ninguém entrou ou saiu a pé ou de carro da residência 842 da rua Maria Auxiliadora na manhã de ontem, primeiro dia de liberdade do casal após o estouro do escândalo dos precatórios do TJ. A pensionista Maria Almeida Nazário chegou ao local às 10h55 e tentou entrar. Ela disse que seu filho é amigo de infância de George Leal, mas a empregada da casa disse que o casal tinha ido dormir. Ela voltou às 14h, mas também não foi recebida. "Moro aqui perto e o conheço desde criança. A matéria é fraca. Nunca se sabe o dia de amanhã. Eu via os policiais aqui. No dia em que aconteceu eu soube do fato, mas só vi que eram eles quando assisti na televisão. Reconheci que eram eles", disse a mulher.

Obstinada a rever George Leal, Maria Almeida já havia tentado falar com o empresário antes. "Acho que ele tem vergonha do que fez e não quis falar comigo. Passei hoje e não vi mais a polícia. Disseram que eles estavam em liberdade e vim tentar. Queria dar um abraço nele. Ele é de família boa. Não conheço Carla direito, mas sempre tive uma relação boa com ele. Queria só isso: dar um abraço", afirmou Maria Nazário. No final da manhã, próximo ao meio dia, a reportagem ligou novamente para George Leal. Ele atendeu. "Hoje nem eu nem Carla vamos dar entrevistas. Vamos almoçar em casa mesmo e também não vamos sair".

Cronologia

Quarta-feira, 30 de maio

20h15 - os policiais do Bope deixam a residência do casal Carla Ubarana e George Leal. O juiz havia determinado a liberdade condicional

Quinta-feira, 31 de maio

8h02 - reportagem do DN chega ao local. Ninguém atende a campainha

8h45 - os filhos de Carla e George brincam na garagem. Eles dizem que a mãe está dormindo e que não vai falar

9h42 - oficial de justiça Aldo Lemos chega à residência

9h59 - oficial entra na casa. Ele leva a intimação da sentença que concede liberdade condicional. Uma mulher vestindo roupa rosa entra na residência

10h22 - oficial de justiça deixa a casa do casal

10h30 - advogado Marcos Braga atende o telefone e diz que não quer incomodar Carla Ubarana ou George Leal

10h35 - reportagem toca a campainha. Mulher atende e diz que Carla está doente

10h55 - pensionista que se diz amiga de George chega à casa. Não consegue entrar

11h35 - George atende o telefone: "Não vamos falar", diz. "Vamos passar o dia em casa"  

Fonte: DN Online

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