Polícia investiga mais um participante

João Batista e Marlene Eugênio - acusados de assassinar Olga Cruz e Tatiana Cristina - participaram ontem da reconstituição do crimeMarco Carvalho - repórter

Eram 10h50 da manhã de ontem quando o jardineiro João Batista Caetano Alves sentou no banco do motorista do carro modelo Fiesta Sedan, de cor branca. O veículo pertencente à polícia estava estacionado na garagem da casa nº 464, da rua Antônio Lopes Chaves, e era elemento da reprodução simulada. Ao tentar ligar, o carro estancou - indo para frente e parando logo em seguida. Ao fazer a segunda tentativa, João acelerou bruscamente de ré e por pouco não acertou o muro da residência. A agente da Polícia Civil que estava no banco do passageiro acionou o freio de mão e parou o veículo antes da colisão. O jardineiro não encontrou maneiras de explicar a primeira contradição entre a realidade e o que apresentou em depoimento.
Adriano Abreu
João Batista e Marlene Eugênio - acusados de assassinar Olga Cruz e Tatiana Cristina - participaram ontem da reconstituição do crime

Das 8h da manhã até As 13h de ontem, agentes da Polícia Civil e peritos do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) conduziram a reconstituição dos assassinatos de Olga Cruz de Oliveira Lima e Tatiana Cristina Cruz de Oliveira Lima. As mortes ocorreram no dia 7 de maio passado e o jardineiro João Batista é o assassino confesso da mãe e da filha. Para a polícia, no entanto, ainda há pontos obscuros na investigação. Muitos deles começaram a ser esclarecidos a partir da reprodução simulada.

O fato de o carro ter estacando pode representar muito mais do que aparenta. Para os investigadores, é indício de que João Batista e a sua mulher, Marlene Eugênio Gomes, contaram com o auxílio de outra pessoa - ainda não identificada. Em depoimento, o jardineiro havia afirmado que, após matar as mulheres e roubar os produtos, colocando-os dentro do veículo das mulheres, saiu dirigindo até a sua casa - na zona Oeste de Natal. Para a polícia, é improvável que João Batista, pelas habilidades que demonstrou, tenha conseguido conduzir o veículo por tal distância.

Mesmo com o assassino confesso e a sua mulher presos, o caso poderá não ser dado por encerrado. "Possivelmente, mais uma pessoa está envolvida", revelou o delegado Roberto Andrade, da Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom). Roberto auxilia as investigações e esteve presente conduzindo a reconstituição na rua Antônio Lopes Chaves.

Para Andrade, o fato de João Batista não saber dirigir deixa a interrogação de como teria ocorrido a fuga e se outra pessoa ainda não identificada poderia ter participado da ação criminosa. "Já acreditávamos que tudo isso poderia não ter sido realizado apenas pelo João e Marlene. Poderá ocorrer outros desdobramentos. A investigação continua", afirmou o delegado. 

João Batista terá outras oportunidades para provar à polícia que realmente sabe dirigir e que orquestrou e realizou os crimes acompanhado apenas da mulher. "Vamos fazer outros testes em pista para saber se ele sabe dirigir mesmo. Ainda não há data para isso ocorrer", informou Andrade.  O carro tipo Fiesta de cor vinho e placas MXJ-7579, pertencente à Olga Cruz e roubado da casa, foi encontrado  em São Gonçalo do Amarante três dias após os crimes. Bastante avariado, apresentava vidros quebrados e pneus furados. No seu interior, extintor de incêndio foi espalhado para dificultar o trabalho da perícia em busca de vestígio dos criminosos.

Previsto para durar três dias, a reconstituição terminou às 13h. A reprodução simulada contaria com a participação da filha de Tatiana, uma criança de 10 anos de idade. A menina assistiu a todo o crime e confirmaria à polícia as versões apresentadas pelos acusados. Os investigadores, no entanto, não acharam necessário e ainda avaliam a sua participação. "Uma psicóloga irá nos informar se há condições de que ela retorne à casa. Isso será verificado durante a próxima semana", esclareceu Roberto Andrade.

 Ao final da participação, João Batista sustentou a versão apresentada em depoimento. "Não menti", se resumiu a dizer ao ser perguntado pelos repórteres sobre as suas habilidades de direção. Marlene Eugênio e João Batista retornaram às unidades prisionais após a realização de exame de corpo de delito.

Laudo esclarecerá versões dos acusados

O objetivo da reconstituição conduzida durante o dia de ontem era desfazer divergências apresentadas no depoimento de Marlene Eugênio e do jardineiro João Batista Caetano. O homem conta que os crimes com características de crueldade contaram com a participação ativa da companheira. Marlene nega que tenha ajudado João Batista e sustenta que não agrediu nenhuma das vítimas. As versões foram confrontadas ontem quando os acusados refizeram os passos dentro da residência na qual ocorreram os assassinatos. 

Peritos do Itep acompanharam os trabalhos e será responsabilidade deles a emissão de um laudo que auxilie a condução das investigações policiais. "O laudo irá esclarecer muita coisa. Os acusados voltaram a apresentar divergências e será analisado qual a versão que apresenta maior consistência", disse o delegado Roberto Andrade, que auxilia a condução das investigações.  

O jardineiro João Batista relatou ontem que Marlene havia arquitetado as mortes motivada por ciúmes, por uma suposta relação entre João e a proprietária da casa, Olga. Já Marlene diz que o crime foi premeditado por João, que por raiva e vontade de roubar, assassinou as mulheres e fez um arrastão na casa. 

O laudo do Itep e a conclusão da delegada Patrícia de Melo Gama, titular da Deam, serão anexados aos autos  do processo que corre sob sigilo na Comarca de Parnamirim. Apesar de o inquérito já ter sido encerrado e remetido à Justiça, a delegada poderá adicionar informações a partir da realização da reconstituição.

Acusados apontam detalhes de torturas e assassinatos

Marlene Eugênio Gomes e João Batista Caetano AlvesNo rosto, sinais de ferimentos e arranhões. No olhar, resignação. Da boca, poucas palavras. Foi assim que todos viram João Batista Caetano Alves durante o dia de ontem. Com chinelos e calção azuis e camisa branca, ele retornou pela primeira vez à casa em que causou terror e pânico. Foi lá que assassinou mãe e filha, além de ter tentado matar uma criança de 10 anos de idade. 
Adriano Abreu
Marlene Eugênio Gomes e João Batista Caetano Alves

Ao refazer todos os seus passos, não demonstrou tristeza ou remorso. Apontou aos investigadores como, onde e quando assassinou e torturou Olga e Tatiana, colaborando com a realização da reconstituição. À imprensa, ao invés das muitas explicações apresentadas no dia da prisão - 16 de maio -, calou-se. Como resposta às perguntas realizadas, abaixava a cabeça e encobria os olhos. Resumiu a dizer "não menti" quando insistentemente questionado sobre as habilidades de dirigir um veículo, o que o teria possibilitado fugir da cena do crime sem auxílio de outra pessoa. 

Marlene Eugênio estava diferente fisicamente. Com a cabeça raspada, a mulher também apresentava marcas de ferimentos.  Com o uniforme do Complexo Penal Dr. João Chaves, onde está detida, ela também colaborou com os investigadores. Mostrou como chegou à residência e o que fez no seu interior. 

Após quase um mês de separação do companheiro, Marlene pôde rever João Batista apenas quando foi colocada dentro da mesma viatura, para retornar ao presídio. Com culpas apontadas de um lado para o outro em depoimentos, não se olharam e não se falaram.

Para a realização da reconstituição, todo um aparato foi montado. O quarteirão foi isolado por equipes de trânsito de Parnamirim e policiais militares deram apoio à atividade policial. Em determinados momentos da manhã, vizinhos e curiosos se aglomeravam para ver o que ocorria, mas acabaram dispersados pelo prolongado período de tempo que durou a reprodução simulada.
Crime chocou pela crueldade

Os assassinatos de Olga e Tatiana Cruz de Oliveira Lima chocaram o Rio Grande do Norte pela crueldade em que foram cometidos. Na manhã da terça-feira, 8 de maio, a polícia invadiu a residência e encontrou as mulheres mortas. Olga foi atingida com mais de 50 facadas, enquanto a sua filha, Tatiana, foi vítima de tortura para que cedesse informações bancárias. Assistiu ainda agressões à sua filha, uma criança de 10 anos de idade. Para os criminosos, a menina havia morrido após as agressões sofridas. Foi ela, no entanto, quem possibilitou que o crime fosse descoberto. Acordou do desmaio e foi aos vizinhos. Traumatizada, se negou a contar o que havia ocorrido, mas motivou a entrada da polícia para ver o que estava ocorrendo. O assassino confesso foi encontrado pouco mais de uma semana depois em São Gonçalo do Amarante. Todos os produtos roubados da residência em Nova Parnamirim estavam em posse de João Batista e Marlene Eugênio. Além deles, também está detida preventivamente, Danúzia de Freitas Valcácio, que teria sacado o dinheiro da conta de Tatiana um dia após a realização dos crimes.

Cronologia

Veja o passo a passo da reconstituição dos assassinatos

- 8h15 

Equipes do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) chegam à rua Antônio Lopes Chaves para auxiliar a condução da reconstituição dos assassinatos. O laudo dos peritos poderá esclarecer detalhes das mortes de Olga e Tatiana Cruz de Oliveira.

- 8h30 

Agentes e a delegada Patrícia de Melo Gama, da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam/ Parnamirim). Patrícia foi responsável pela condução do inquérito, já remetido à Justiça e, agora, está sob sigilo.

- 8h45

O jardineiro João Batista Caetano Alves e a sua mulher, Marlene Eugênio Gomes, chegam à casa de número 464, para participar da reprodução simulada. Eles chegam escoltados, separados em dois carros da polícia.

- 9h30 

João Batista é o primeiro a refazer os passos que foram realizados no dia do crime, no dia 7 de maio passado. Ele conta à polícia como encontrou Olga e Tatiana naquele dia. Estava sentado na calçada e esperou mãe e filha chegar para oferecer os serviços de jardinagem. Com marcas de ferimentos espalhados pelo corpo, permaneceu sério e sem falar muito ao longo da atividade policial.

- 10h50 

A reconstituição continua ocorrendo e a polícia conduz o jardineiro para dentro de um veículo. O objetivo é verificar se o homem tinha condições de dirigir o veículo e escapar da cena do crime, como havia relatado. O carro estanca duas vezes e o fato levanta suspeitas de policiais.

- 11h15

A 2ª etapa da reconstituição tem início com a participação de Marlene Eugênio. Ela é retirada do carro, de onde estava desde quando chegou ao local, e é levada para dentro da residência. De cabeça raspada, ela está com o uniforme do Complexo Penal Dr. João Chaves, na zona Norte: blusa branca e short azul.

- 11h50

Marlene refaz os passos fora da residência, quando supostamente teria recebido um telefonema de João Batista e entrado na casa. 

Estaria acompanhada do filho, um adolescente de 13 anos de idade que não participou da reconstituição. A todo momento, policiais faziam a vez de personagens do crime, auxiliando a realização da perícia.

- 12h45 

Marlene entra no veículo e relata como teria fugido, após as mortes e o roubo realizado na residência.

- 13h05 

Marlene deixa a casa e entra na mesma viatura que João Batista. O procedimento é dado por encerrado e os dois são conduzidos para exame de corpo de delito no Itep e, posteriormente, retornaram à unidade prisional.
Fonte: TN Online

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