Cursinhos se adaptam ao Enem


Hoje a Universidade Federal do Rio Grande do Norte põe fim a um processo de seleção que por anos foi o único sistema  de acesso ao ensino superior no Brasil, o tradicional vestibular. Os cursinhos pré-vestibulares e as escolas já estão de olho nas mudanças para se adaptarem a  metodologia de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será  única forma de acesso à UFRN em 2013.
Rodrigo SenaAlgumas escolas e cursinhos já começaram a adequação este ano, trabalhando a interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos
Algumas escolas e cursinhos já começaram a adequação este ano, trabalhando a interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos

Algumas escolas já começaram a adequação este ano, trabalhando a interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos. E de acordo com os professores essas são as peculiaridades do Enem.

"Basicamente a mudança será na carga horária, as disciplinas de filosofia e sociologia terão que ser incluídas na grade curricular e haverá uma atenção maior para as disciplinas de Português e Matemática que representam metade da prova. Além disso, as escolas e os cursinhos terão que aderir a prática de ensino temático, da interdisciplinaridade, já que essa é uma característica do Enem", explica o vice-diretor do CDF Colégio e Curso, professor Henrique Lucena.

O professor explica ainda que essa mudança vai ser mais difícil para o aluno do que para as escolas, pois eles estão acostumados a estudar separadamente cada disciplina. E agora, os estudantes vão ter que aprender a relacionar a Química com a Física, a Biologia com o Português. E isso exige, entre outras coisas, muita leitura. O grande 'calo' da maioria dos alunos.

Algumas escolas já vinham utilizando esse método porque o vestibular da UFRN exige essa interdisciplinaridade, mas não tanto como o Enem. Para os especialistas quem não se adaptar as instituições que não se adaptares essas mudanças vão perder espaço no mercado.

"Acredito que as escolas e os cursinhos não terão problemas com essa mudança. Não vejo o mesmo com os cursinhos isolados, que focam o ensino de apenas uma disciplina. Será preciso contextualizar. Essa é a palavra de ordem no ensino brasileiro daqui para frente", diz o diretor do Colégio Contemporâneo, Antônio Teófilo.

A escola dele já trabalha desde abril com um sistema pedagógico integrado que estabelece relações interdisciplinares, aproximando o ensino da sala de aula do cotidiano.

Se essa adaptação não vai ser fácil para os estudantes da rede particular, a dificuldade será ainda maior para os alunos da rede pública, que, infelizmente, possui uma grade curricular prejudicada, entre outros motivos, pela ausência de professor em sala de aula.

"Os alunos da rede pública terão ainda mais dificuldade. Será preciso uma verdadeira mudança na educação pública para que eles não fiquem para trás. A cobrança vai ser maior", disse Henrique Lucena.

O professor Antônio Teófilo acredita que se não fossem as cotas, as chances dos alunos da rede pública  entrarem na universidade através desse tipo de avaliação seria menor do que as chances atuais.

"No Enem é cobrada a contextualização. É uma nova realidade que o ensino público ainda não aderiu. Mas temos que correr atrás", diz o professor.

Quase 4 mil candidatos desistiram da disputa

O segundo dia do vestibular da UFRN transcorreu tranquilo, na avaliação da presidente da Comissão Permanente do Vestibular (Comperve), Magda Pinheiro: "Não houve nenhum problema relevante, inclusive não tivemos nenhuma reclamação,  de candidatos que chegam atrasados, que geralmente vêm aqui reclamar".

No segundo dia do vestibular, informou ela, faltaram 286 candidatos, que somados aos 3.641 faltosos de anteontem, dão um total de 3.927 candidatos faltosos. Isso, afirmou a presidente da Comperve, dá um percentual de 13,72%.

Para o terceiro dia do vestibular, que ocorre hoje com 12 questões discursivas de acordo com a área do candidato, restam, dos 28.614 candidatos inscritos inicialmente, o universo de 24.687 pessoas disputando 3.015 vagas em Natal e mais quatro cidades, no interior: Caicó, Currais Novos, Mossoró e Santa Cruz, nos 84 cursos presenciais da UFRN.

Magda Pinheiro informou, ainda, que no segundo dia do vestibular houve a eliminação de apenas um estudante, no IFRN da Cidade Alta, em Natal, "porque estava portando o celular".

Ela explicou que apesar da proibição em portar um telefone celular e ainda haver uma flexibilização, para que os candidatos coloquem o celular e outros objetos pessoais num envelope, embaixo da carteira onde vai ficar sentado, "ainda insistem ficar com o celular, geralmente no bolso". Como geralmente ocorre, esse candidato foi flagrado com o celular no banheiro. 

No domingo, tinha ocorrido a eliminação de dois candidatos, um candidato estava portando o reprodutor de música MP4. No momento da aplicação da prova, ele pediu para ir ao banheiro, foi submetido a um detector de metais e foi encontrado do MP4. Outro candidato pediu para ir ao banheiro, e de novo o detector de metal identificou que ele portava no bolso o celular e no outro a bateria do aparelho.

O estudante Hugo Santos, 24 anos, foi um dos 286 candidatos que chegaram atrasados ao local das provas, ontem, tendo afirmado que fez "uma boa prova" no primeiro dia do vestibular, mas na manhã de de ontem,  chegou cinco minutos atrasado no portão de entrada da Escola Estadual Floriano Cavalcante (Floca), no conjunto Mirassol, Zona Sul de Natal.

Esse era o primeiro vestibular que Hugo Santos participava, na tentativa de entrar no curso de Ciências Contábeis, e mesmo morando no conjunto residencial Pajuçara, na Zona Norte de Natal, fez o possível para não chegar atraso. No domingo deu certo porque não havia tanto trânsito nas ruas de Natal, mas nesta segunda, o fluxo de veículo, que é bem maior, provocou um engarramento na ponte de Igapó e mesmo ele vindo de motocicleta, acabou chegando atrasado no local das provas.

Para ele, aí é está um fato que mostra uma falha da Comissão Permanente do Vestibular (Comperve), que deveria distribuir os concorrentes ao vestibular para os locais mais próximos da residência do candidato. "Se não fosse em um bairro mais próximo, pelo menos que fosse em Petrópolis", chegou dizer Santos, comparando a proximidade desse bairro da Zona Leste com a região onde mora: "Não estou com raiva de mim mesmo, e sim da organização que podia  distribuir melhor os candidatos, que devia se feito de acordo com o nosso endereço, informado na inscrição".

Já Rafael Fontes de Melo, 20 anos, estava fazendo o segundo vestibular, também para Ciências Contábeis. Ele é outro que mora distante do local de aplicação das provas, em São Gonçalo do Amarante,  e disse que chegou atrasado 15 minutos depois do horário em que são fechados os portões, porque o ônibus em que vinha do município vizinho a Natal atrasou: "Por conta de uns, todos terminam pagando", disse ele, triste por sair prejudicado depois de pagar um cursinho e estudar o ano todo. Para Rafael, o prejuízo só não foi maior porque considerou bom seu desempenho no Enem, o que pode lhe garantir o ingresso num curso superior, através do SiSu.

O estudante Flávio Magno da Silva, 20 anos, veio de Santa Cruz, a 120 km de Natal, na região do Trairi, chegou a tempo no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e meia hora antes de fechar os portões disse "que estava revisando" as últimas matérias para as provas desta terça. 

Para não chegar atrasado nenhum dia, e como não tinha condições de vir todo dia e a tempo, de sua cidade, chegou há três dias em Natal, onde está hospedado na casa de uma irmã, em Felipe Camarão, na Zona Oeste. 

Segundo ele, é a primeira vez que faz o concurso, para Fisioterapia, apesar de na cidade dele existir esse curso: "Há dez meses que vinha me preparando e em três dias não posso vacilar, por isso que estou dando essa revisada para não ter o tempo de estudo perdido".

Magda Pinheiro disse que quando o candidato pede mais ou menos a área que quer fazer prova, "a Comperve tenta atender na medida do possível", como na Zona Norte, "onde são poucas escolas que a gente tem, é preciso fazer as provas em outro local".

Mas, segundo ela, já no caso de um candidato morar em local distante, "a gente sempre orienta que chegue pelo menos com meia hora de antecedência do fechamento dos portões", porque a Comperve "não tem como atender, num vestibular para quase 30 mil pessoas, exatamente aquilo que o candidato quer".

Último vestibular da UFRN será encerrado hoje

O tradicional vestibular da UFRN termina hoje, último dia de realização das provas para quem pretende ingressar num curso de graduação de ensino superior. A partir de 2014, o ingresso naquela universidade será pela nota do Enem, mas a presidente da Comperve, Magda Pinheiro, disse que o órgão continuará realizando outros processos seletivos: "Este ano já fizemos 20 seleções para prefeituras, outros órgãos e também para processos internos". 

Ela disse que a Comperve também realiza processo seletivo para as três escolas técnicas da UFRN, a Agrícola de Jundiaí, com sede em Macaíba e ainda as de Enfermagem e de Música, afora seleções para residências universitárias, ingressos em cursos de pós-graduação e ainda para a contratação de servidores da UFRN.

O vestibular 2012 é o primeiro da UFRN em que está sendo aplicado o sistema de cotas. No domingo, todos os candidatos receberam um panfleto explicativo sobre como ocorre a divisão das vagas por cotas de pobreza e racial.

Hoje, os candidatos vão receber um documento onde vão preencher dados para enquadramento ou não no sistema de cotas. Somente se for aprovado e no ato do cadastramento, o candidato terão de comprovar que concluiu o ensino médio em escola pública e a declaração de rendimentos.

Segundo Magda Pinheiro, a UFRN destina 12,5% das vagas para as cotas, beneficiando todos os estudantes que cursaram todo ensino médio em escola pública.

Mas 50% dessas vagas da cota vão para quem tem renda familiar até 1,5 salários mínimos a outra metade para quem tem renda superior a 1,5 salários mínimos. Nestas duas divisões por renda familiar, surge uma outra subdivisão, metade das vagas desses dois grupos vão para quem se declarar preto, parto ou indígena.

A presidente da Comperve ainda explicou que a condição inicial para usufruir das cotas é passar na primeira fase e na segunda fase atingir um argumento mínimo de 450 pontos. 

Redação

As redes sociais foram tema da redação do vestibular da UFRN, que pedia para os candidatos analisarem o assunto em um artigo de opinião. Para o estudante Matheus Bezerril, candidato a uma vaga no curso de Publicidade e Propaganda, o gênero da redação foi uma surpresa, já que ele esperava carta, mas considerou o tema como bom, porque é bastante atual.

Já a candidata Aline Favero, que presta vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo, o tema da redação foi ótimo, por ser comum para a juventude. "Todo mundo acessa as redes sociais direto, aí já é o nosso tema", disse.

Sobre as demais provas aplicadas hoje, Português, Literatura, História e Geografia, os dois estudantes avaliaram como boas. "Eu esperava uma prova mais difícil de Português, mas foi uma prova muito boa, e Geografia veio um pouco mais complicado, com muita questão sobre o Rio Grande do Norte", avaliou Matheus.
da TN

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