O Brasil barroco em traços, cores e sentimentos

Entre o final do século XVI até meados do século XVIII, Europa e América viveram sob a exuberância dramática do barroco, com sua arquitetura, música e filosofia cheias de contrastes. A mesma complexidade mantém esse estilo artístico relevante - mais de 200 anos após seu auge - para ser discutido e apreciado pelo ponto de vista contemporâneo. É o mote para o Colóquio de Estudos Barrocos que, em sua 8ª edição, será realizado junto ao II Seminário Internacional de Arte e Literatura Barrocas, na UFRN, de 12 a 14 de novembro. O tema de 2012 é "Barroco: Cultura e Crise na Modernidade". Palestras, mini-cursos e exposições fazem parte da programação. 
DivulgaçãoCatedral da Sé de Belém-PA é uma das obras citadas em destaque durante o seminárioCatedral da Sé de Belém-PA é uma das obras citadas em destaque durante o seminário

"Debater o barroco é debater a arte brasileira por excelência. O barroco, apesar de antigo, se insere no tempo da arte e da poesia: não tem tempo", afirma o professor Francisco Ivan da Silva, coordenador geral do encontro. Estudiosos afirmaram que o barroco foi a "expressão cultural de uma crise", partindo daí a suposta afinidade dessa arte clássica com os tempos atuais, onde convivem conflitos, guerras e choques em um cotidiano repleto de contrastes. 

Ícones

Segundo o coordenador Francisco Ivan, o debate não envelheceu, já que as vanguardas sempre resgatam fundamentos do barroco em sua arte ao longo do tempo. O professor cita nomes como o poeta Federico García Lorca, Oswald de Andrade e Haroldo de Campos. Até alguns ícones do século XX podem ser classificados como barrocos, caso de Carmen Miranda, Luiz Gonzaga e Chacrinha, artistas que usavam da ornamentação e de um certo exagero para comunicar suas mensagens. Para diversos pesquisadores, o barroco não constitui apenas um estilo artístico, mas todo um período histórico com um modo próprio de entender o mundo, o homem e a religião. 

O ciclo de palestras e cursos do seminário, na Biblioteca Central Zila Mamede, trará pesquisadores que transitam entre a produção barroca e o pensamento contemporâneo para dialogar sobre questões diversas. No dia 12/11, após uma apresentação do Grupo Gema dedicada à música ibero-americana, às 17h, haverá a conferência "Redefinições do campo dos estudos literários sobre o barroco", do professor João Adolfo Hansen (USP); no dia 13, às 16h, terá a palestra "Barrocolúdio: de Haroldo a Lacan", com a professora Miriam Chnaiderman (PUC-SP); dia 14 terá performance teatral de Pinho Montinelli e apresentação musical da EMUFRN, às 17h, e às 18h, a conferência "A prolixa multiplicação dos Polifemos", com o professor Manuel Geraldo Simplício Ferro, da Universidade de Coimbra (Lisboa). 

DivulgaçãoCaravaggio, de Derek Jaman, será exibido na mostra barrocaCaravaggio, de Derek Jaman, será exibido na mostra barroca
UMA ARTE PARA VER: EXPOSIÇÕES COM APELO SENSORIAL E 'CINEMA NA VELA'

Para mostrar que o barroco é também uma arte essencialmente  visual, será aberta no dia 14/11, às 16h, a exposição "Barroco Transversal", ocupando as partes externa e interna da BCZM. "A mostra vai propor ao visitante uma experiência sensorial e intelectual em torno de um barroco cíclico, justapondo épocas, autores, obras e conceitos, através de projeções de vídeos, instalações e painéis. Pensamos numa série de obras que possibilitem ao visitante um percurso pelo imaninário", explica Armando Sérgio dos Prazeres, curador da exposição ao lado de Luiz Tadeu da Costa. 

Uma jangada será posta entre a biblioteca e o CCHLA (centro de humanas) com a vela servindo de tela para a projeção de filmes sobre escritores e artistas barrocos. Os filmes serão os seguintes: "Sermões - A história de Antônio Vieira" (de Júlio Bressane), "Gregório de Mattos" (Ana Carolina), "Caravaggio" (Derek Jarman) e "Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício" (Geraldo Santos Pereira). Os visitantes também poderão ver um cravo, instrumento musical típico da época, cedido pela Escola de Música da UFRN. 

A obra "Galáxias Gregorianas" propõe um diálogo poético-sonoro-cinematográfico entre os poetas Haroldo de Campos e Gregório de Mattos. A instalação "Enrede" usará uma rede de pesca como metáfora para aproximar as poéticas de Jorge Fernandes e Oswald de Andrade. Os visitantes poderão ainda participar da montagem de um altar barroco, que ficará exposto, convidando as pessoas a contribuir com qualquer objeto. Ao lado desse altar, ficará um painel com imagens da Catedral de Belém do Pará, uma das grandes referências do barroco brasileiro. Os artistas paraenses Drika Chagas, Armando Queiroz, Cláudia Leão e Orlando Maneschy foram convidados para expôr suas obras durante a exposição, cada qual com propostas e suportes diferentes. 

Pelo corredor central da exposição, estarão painéis com obras ampliadas de artistas barrocos. Nos ambientes posteriores, o visitante encontrará uma série de reproduções de pinturas, esculturas e poemas ampliados em tecido. Os painéis mostram obras de Gongora, Bernini, Aleijadinho, Ascimboldo, Goya, Tarsila do Amaral e Efon Schiele, além de uma representação fractal que reúne altares e azulejos barrocos, um portrait de Soror Juana Inês de la Cruz, e uma imagem labiríntica do cajueiro de Pirangi. 

Serviço: VIII Colóquio de Estudos Barrocos e II Seminário Internacional de Arte e Literatura Barrocas. De 12 a 14/11, na BCZM, UFRN. 
da TN

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