Paciente com tétano ocupa leito de UTI no Hospital Giselda Trigueiro

Doença é 100% evitável, através de vacina que é distribuída gratuitamente em todas as unidades de saúde. Foto: José Aldenir
Doença é 100% evitável, através de vacina que é distribuída gratuitamente em todas as unidades de saúde. Foto: José Aldenir
O déficit de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Rio Grande do Norte, segundo a Secretaria Estadual de Saúde Pública ultrapassa os 150 leitos, e tem feito com que pacientes, em estado grave, aguardem em longas filas à espera de uma vaga nos corredores dos principais hospitais do Estado. Na contramão da necessidade de novos leitos, os que já existem estão sendo utilizados por pacientes com doenças que poderiam ser completamente evitáveis por vacinação, como é o caso do tétano.
Nos últimos anos, o número de pacientes com a doença tem causado preocupação, já que a doença pode ser prevenida. Em 2012, seis pacientes deram entrada no Hospital Giselda Trigueiro, referência estadual no tratamento de doenças infectocontagiosas, com tétano e uma foi a óbito. Este ano, em apenas sete meses, o Hospital já registrou cinco pacientes com a doença, sendo uma de vítima fatal.
Devido à gravidade da doença, os pacientes necessitam de cuidados especiais e terminam ocupando um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por se tratar de uma patologia de internação prolongada. Há meses, a UTI do Giselda, que conta apenas com sete leitos, chegou a ter três pacientes com tétano internados ao mesmo tempo. Na manhã de hoje (13), um paciente estava, em estado grave, internado na UTI do Giselda com a mesma doença. Todos estes casos são de pacientes oriundos do interior do Estado.
O tétano é uma doença infecciosa grave, não contagiosa, causada por toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani. Sob a forma de esporos, essa bactéria é encontrada nas fezes de animais e humanos, na terra, nas plantas, em objetos e pode contaminar as pessoas que tenham lesões na pele (feridas, arranhaduras, cortes, mordidas de animais, etc.) pelas quais o microorganismo possa penetrar.
Crianças até cinco anos devem receber a vacina tríplice contra tétano e, a partir dessa idade, a vacina dupla (contra difteria e tétano) que também é recomendada para os adultos e pode ser obtida em qualquer posto de saúde. Uma dose de reforço deve ser tomada a cada dez anos para garantir a proteção contra a doença.
“Hoje em dia não se admite que se tenham pacientes com tétano, pois é uma doença que se previne com uma vacina que custa R$ 0,40 para o Governo e que para a população é gratuita nos postos de saúde. Mas o paciente adquire a doença por falta da vacina, interna no hospital e é uma doença que tem uma letalidade alta. O paciente ocupa um leito de UTI porque é uma doença grave e necessita de cuidados intensivos, por muito tempo. Esse ano já tivemos cinco casos de tétano e esse é um número muito alto porque não deveríamos ter nenhum”, explica a diretora do Giselda Trigueiro, Milena Martins.
A diretora explica que o tempo de permanência de um paciente com tétano em um leito de UTI gira em torno de 60 dias, o que acarreta um alto custo para o Estado. “Além do alto custo, o paciente ocupa o leito que deveria ser usado por um paciente de outra patologia. Isso traduz uma deficiência da atenção básica e precisamos fazer um alerta à população para que sempre que for ao posto de saúde procurar se informar sobre a vacina contra o tétano. Precisamos intensificar a vacinação na fase adulta”, afirmou. Segundo a diretora, o perfil dos pacientes internados são homens, em idade adulta, geralmente agricultores e operários da construção civil.
Milena Martins explica que ainda existe o risco do tétano neonatal, que é o tétano que a criança pode adquirir no momento do parto, quando é feito em condições inadequadas. “Por isso, todas as gestantes, obrigatoriamente, recebem a vacinação antitetânica durante o pré-natal. Raramente encontramos um caso de tétano neonatal, mas os homens terminam esquecidos”, afirmou a diretora do Giselda Trigueiro.
A diretora conta que os sete leitos de UTI para a demanda do Hospital são insuficientes. Com freqüência, os pacientes que necessidade de um leito de UTI são mantidos no Pronto Socorro, na sala de reanimação, em uma espécie de UTI improvisada. “De rotina, dois ou três pacientes ficam lá necessitando de UTI à espera da vaga que não conseguimos. Somos um hospital que recebemos pacientes com doenças infectocontagiosas graves em sua maioria, como AIDS, tuberculose, meningite, dengue hemorrágica e leptospirose”, destacou.
GREVE
A diretora do Giselda Trigueiro, Milena Martins, explicou que a greve dos servidores estaduais da saúde, iniciada desde o dia 1º de agosto, comprometeu alguns serviços. Os exames ambulatoriais não estão realizados. O atendimento ambulatorial está limitado e o Pronto Socorro está atendendo apenas casos de urgência e emergência, dentro do perfil do hospital. “A greve está intensificando um atendimento que realmente não é prioritário para o Pronto Socorro”. Milena disse que os servidores estão cumprindo o efetivo mínimo de 30% dos profissionais trabalhando.
MUDANÇA
Milena Martins disse que o entendimento da Secretaria Estadual de Saúde Pública, não apenas para o Hospital Giselda Trigueiro, mas para os demais hospitais da Rede Estadual, é de que os hospitais sejam referência para o atendimento de urgência e emergência. “Não vamos fechar a porta, mas o paciente obrigatoriamente vai passar pela classificação de risco e aqueles que são classificados como verde e azul não serão atendidos no hospital. Hoje já fazemos a classificação de risco, mas ainda atendemos o paciente”, disse.
A diretora explicou que, a partir do dia 1º de outubro, através de uma articulação com o município de Natal, já que a demanda do Hospital é de cerca de 75% de pacientes de Natal, os que forem classificados como verde e azul, serão referenciados para unidades de saúde do Município. “São pacientes que podem ter o atendimento agendado nos postos de saúde. Pedimos ao Município a relação de todas as unidades que funcionam com médicos e devemos nos reunir para pactuarmos compromissos no sentido de fazer o encaminhamento responsável desses pacientes. Com isso ganha todo mundo, pois os profissionais ficam dedicados a atender aquilo que realmente é obrigação do hospital”, destacou.
INDICATIVO
Na noite desta segunda-feira (12) foi realizada uma assembleia na sede do Sindicato dos Médicos com os profissionais médicos do município de Natal e do Estado. Durante a assembleia ficou definido que os profissionais do Município se reunirão na próxima segunda-feira (19) para definir o plano de negociação com o secretário de Saúde de Natal, Cipriano Maia. A assembleia desencadeará a campanha salarial. Ficou determinado também que os profissionais do Estado se reunirão na próxima segunda-feira, quando será votado o indicativo de greve.
do JH

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