Luiz Alberto Marinho diz que Brasil perde guerra contra Aedes Aegypti

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O Brasil está perdendo a guerra para o Aedes aegypti. A afirmação é do infectologista Luiz Alberto Marinho, que foi o convidado neste domingo (17) do programa “Diógenes Dantas Entrevista”, da TV Tropical.

De acordo com o médico, o Poder público nunca levou devidamente a sério o controle do mosquito. As consequências foram os registros alarmantes das doenças transmitidas pelo inseto, como a dengue, chikungunya e zika. “São três viroses urbanas que o Aedes aegypti transmite para as pessoas. Entre as três, a dengue é a mais perigosa”, disse.

Marinho falou ainda sobre a provável causa para o surto da zika vírus e registrado recentemente, além de sua relação com a microcefalia. Com 40 anos de experiência na área, o médico comentou ainda sobre o Sistema Único de Saúde e a infecção hospitalar.

Controle do Aedes aegypti

“Hoje o Aedes é um inseto doméstico. Ele que era de um ambiente silvestre, de matas, principalmente na sua origem africana, era um inseto que não se adaptaria com facilidade ao meio urbano. Portanto a fêmea do Aedes aegypti se alimentava do sangue de animais. Ocorre que com a chegada do homem no seu nicho ecológico, no seu habitat, então o inseto começou a conviver próximo às moradias dos homens. Essa adaptação foi tamanha que hoje ele é considerado um inseto antropofílico, que prefere o sangue do homem a sangue de animais. A dificuldade nos dias de hoje de se lidar com o inseto é porque ele é doméstico e convive com o homem em sua moradia”.

Dengue, chikungunya, zika e febre amarela

“Sem dúvida, dessas quatro viroses, que a gente chama de arboviroses [oriundas do inseto], a mais letal para o ser humano é a febre amarela. Nós não temos febre amarela no Brasil na região urbana, mas ela existe no meio selvagem, no meio silvestre, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Não é problema nosso neste momento nas regiões urbanas. O risco existe, como o inseto que transmite o vírus da febre amarela é o aedes, então há sempre uma chance dessa virose começar a ser urbana também. Coisa que até o momento nós só temos dengue, chikungunya e zika. São três viroses urbanas que o aedes aegypti transmite para as pessoas. Entre as três, a dengue é a mais perigosa”.

Zika e microcefalia

“No dia 13 de abril deste ano a Organização Mundial de Saúde, recebendo trabalhos do Brasil, reconheceu que aquilo que era apenas ou provavelmente uma associação temporal e espacial, ela agora é causal também. Hoje definitivamente as malformações congênitas, o comprometimento do feto de uma mãe que adoeceu de zika e que ele pode ter repercussões, entre elas a mais comum que é a microcefalia, definitivamente pode estar relacionada ao vírus zika”.

Zika vírus chegou com a Copa?

“No mesmo ano de 2014, antes da Copa do Mundo, houve no Rio de Janeiro um campeonato de canoagem com participação de vários países. O que é interessante é que vieram alguns atletas da Polinésia Francesa, que é um arquipélago que fica no Pacífico, próximo à América do Sul, em que estava havendo um surto de zika nos anos de 2013 e 2014. Então é possível que alguns desses profissionais de canoagem tenham vindo ao Rio de Janeiro com o zika na corrente circulatória e que os insetos aqui do Aedes aegypti tenham também adquirido o vírus. Essas são as duas possibilidades e talvez as duas tenham contribuído”.

Guerra contra o mosquito

“O placar já está muito a favor desse mosquito. Primeiro porque a sua erradicação é muito difícil porque ele é um inseto doméstico, ele coabita com o homem. Segundo lugar, porque os materiais existentes hoje, principalmente os plásticos, que demoram muito a se deteriorar, torna muito difícil o controle e erradicação de um inseto como esse. O Poder Público também nunca levou a sério como deveria ser levado o controle desse inseto. A gente vem acompanhando isso nos últimos 23 anos, que é muito difícil controla esse inseto, mas é possível evitar as epidemias. A gente nem conseguiu evitar esse primeiro intento, que é deixar a doença existir, mas sob a forma de casos esporádicos e não comprometendo grande parte da população”.

Atendimento da rede de saúde

“A população deveria começar pelo básico.  Ao atendimento básico, posto de saúde, o Programa de Saúde da Família, porque a maioria dos casos são resolvidos nessa esfera. O que ocorre é que nossos postos de saúde não funcionam diuturnamente. A população ao adoecer à noite, madrugada ou fim de semana, vão procurar os hospitais, sobrecarregando esses hospitais que deveriam receber exclusivamente os casos graves. Na realidade o acompanhamento de um paciente desse é completamente errado, porque ele já vai para o serviço de maior complexidade, já que ele não tem atendida sua necessidade no posto de saúde. Nós não temos num posto de saúde uma condição de fazer um hemograma, que era uma maneira de dizer ao paciente se está com dengue, chikungunya ou zika, mas pode ficar em casa porque está dentro da forma benigna, que é a maioria. Como isso não existe, o paciente sobrecarrega o hospital”.

Infecção hospitalar

“A infecção hospitalar é um problema mundial. Principalmente em países superdesenvolvidos. Nós temos problemas de infecção hospitalar em qualquer hospital. É verdade que alguns tem um percentual aceitável pela Organização Mundial de Saúde, são aqueles cujas  margens de infecção hospitalar não ultrapassa 6% dos pacientes internados. Seria o ideal”.

Crise no SUS

“Embora não tenha nenhuma atividade burocrática, apenas de linha de frente de atendimento. Como sou do Hospital Giselda Trigueira, eu poderia dizer que talvez o SUS esteja passando um de seus piores momentos. Além da falta, da escassez de dispositivos, de medicamentos, enfim daquilo que é necessário para um atendimento razoável nos postos, nas UPAs e principalmente nos hospitais, a gente está vendo que a crise realmente começou até um pouco antes que a famosa crise do ano passado. A gente tem uma escassez e uma ausência e elementos que não poderiam faltar. Tudo isso vai contribuir para que o nosso atendimento sejam muito aquém daquilo que a gente poderia oferecer”.

do nominuto.com

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